Festival da canção - eu vi!

Sim, vi, e tento ver todos os anos, assim como as nossas vergonhas na Eurovisão, mas acima de tudo ver que evolução o festival demonstra na Europa. E, meus amigos, não há volta a dar - o Eurovisão está cada vez mais pop, mas sem esquecer as raízes etnográficas de cada país, num mix bem conseguido, a puxar para o irreverente e alternativo, muito na onda do que é fashion, às vezes demasiado kitch e cada vez mais monoglota (o inglês espalha o seu domínio).

Ontem tive esperança que algo mudasse. É engraçado que todos os anos dá a impressão que a RTP arranja sempre qualquer estratagema para "modelar" os resultados de forma a conseguir que o resultado não represente mais uma vergonha no Eurovisão. Este ano, e aproveitando o facto de agora não haver juri e funcionar por televoto, incluiram pela primeira vez votos internacionais de quatro países: Espanha, França, Alemanha e Suiça, de forma a que os portugueses radicados nesses pudessem votar também. E perguntam vocês: e porque não incluir também os residentes no Luxemburgo, outro país com uma grande comunidade lusa? Porque o Luxemburgo não participa no Eurovisão, logo não terá voto na matéria.

A esperança da RTP é que os mesmos que escolheram ontem a canção vencedora voltem a votar no Eurovisão, porque tem-se constatado que são praticamente estes os países que nos dão pontos acima dos seis todos os anos... Lembro perfeitamente que, no ano passado, a Espanha nos deu 12... a pontuação máxima, coisa que não acontecia há dois séculos...
Bem, espero que sai certeiro o tiro da RTP.

O mesmo não se pode dizer da canção vencedora: "Senhora do Mar" interpretada pela Vânia, vencedora da OT 2008, um concurso que também segui a par e passo. Apesar de adorar a voz dela, e de ter torcido por ela... mas na OT, não queria que ontem tivesse ganho.
Ela e mais alguns ex-colegas do concurso que a acompanharam nos coros trouxeram uma música de bradar aos céus e fazer chorar as pedras da calçada... bem portuguesa, portanto. Quando a ouvi pensei "Dasss... lá vamos nós armarmo-nos em coitadinhos outra vez". Quem não a ouviu posso adiantar que é uma espécie de "Desfolhada" de Simone de Oliveira, bem bonita, sim, mas completamente "out" do espírito Eurovisão, e acima de tudo do que já se vai fazendo em termos musicais nos circuitos cada vez menos alternativos da nossa música e que nos colocam a par do que de melhor se vai fazendo lá fora.
Enfim, seja o que Deus quiser...

Das 10 músicas propostas realmente ouviu-se de tudo e ficou aquela estranha sensação de transição - do "mais do mesmo" para uma nova lufada de ar fresco do que se vai fazendo actualmente por cá. Gostei particularmente de três ou quatro temas e sobre outros tantos rezei para que nenhum deles ganhasse. Gostei de "Lisboa não sejas francesa" que fez muito lembrar a música do Donna Maria, talvez porque os produtores sejam os mesmos, mas o meu tema favorito e que me pareceu ser o mais "Eurovision" de todos foi o nº 10, "Magicantasticamente" interpretado pelo trio Blá Blá Blá. Muito alternativo, é certo, mas eu adorei!
Ok, Portugal ainda não está preparado para ser tão alegre e ousado... uma pena...

É ou não é porreira? Desde a entrada em palco com a corneta, à coreografia, às roupinhas dos ninos,... tudo!

P.S. - Porque é que não se grava um CD com as musicas do festival da canção todos os anos? É uma pena que alguns temas muito bons praticamente só se façam ouvir uma vez na vida - quando apresentados ao público durante a actuação no festival...