11 de dezembro de 2008

Este país é para velhos

Num país costumeiramente mal-grato em relação às suas personalidades artísticas e culturais mais imponentes; num país em que a inveja e mesquinhice parecem traços genéticos de um povo; num país que relega para a pobreza e desprezo os seus velhos...

O dia de ontem e de hoje foram bonitos e diferentes:
  • Ontem derreti-me de emoção ao ver o documentário dedicado a um dos meus escritores de culto (cuidado! quando eu gosto de um escritor/político/artista/etc. eu venero até à exaustão). Assim ficou provado a teoria que sempre defendo perante os detractores de Saramago: empedernido por fora como um rochedo altivo, mas um oceano profundo de emoções por dentro. O Saramago é um caso extraordinário de alguém que pareceu viver duas vidas: a primeira até aos 50 e tal, feita de dureza, suor, construção daquilo que ele é, um autodidacta brilhante, comuna, recto, leal aos seus princípios; e o renascimento após os 50, com a escrita, uma vida luminosa, transcendente, de génio, que o levou a escrever com uma pujança de um miúdo, numa altura em que a maioria dos grandes escritores já vivem do que escreveram na juventude. E o amor... o amor da vida dele também chegou com a pujança de quando se tem 20 anos. Não vos intriga a história dele com Pilar? Uma jornalista bem sucedida, interessantíssima, bela, sensual, na flor da idade (36 anos) e com namorado, vai a Portugal para entrevistar o escritor de O Ano da Morte de Ricardo Reis. O que se passou nesse encontro ninguém sabe. Só se sabe que foi definitivo. Ela largou tudo por um homem de 60 anos. E mesmo hoje, 15 anos volvidos, eles falam um do outro com uma paixão, um amor avassalador. Fico impressionada sempre que ele fala dela. Todas as mulheres mereciam ser amadas assim, como Pilar o é por Saramago. Mesmo tendo aquele ar empedernido, a mim nunca me enganou.
  • O 100º aniversário de Oliveira também me impressiona e emociona. Não só pelo número, mas pela figura, vida e obra do homem - ora aqui está alguém que honrou a oportunidade que o criador lhe deu. Poucos terão merecido tanto. E tu olhas para ele e sabes que andará aqui por muitos mais anos. Tem uma energia inacreditável e principalmente uma cabeça muito avangarde. É um orgulho desmesurado. A obra dele é conceptual, intemporal, empírica, goste-se ou não, tem traço. E longa vida a Oliveira porque o mundo precisa de exemplos como o dele. Devia ser mais premiado, mais homenageado, mais mimado, daqui em diante, por cada ano, mês e dia de vida que viva.

1 comentário:

Isandes disse...

Nice post. xuac