19 de abril de 2008

Há um assunto que me tem tirado o sono... (por acaso têm sido as dores no pescoço)

... que é o Acordo Ortográfico...

Eu entendo e concordo com os argumentos da facção pró-acordo, na medida em que realmente uma mesma língua falada e escrita por efectivos 200 milhões reforçaria, e de que maneira, o peso institucional e importância do Português a nível global; e também concordo que facilitaria a aprendizagem nos países PALOP e até a circulação de pessoas e profissionais entre os mesmos. Mas a minha concordância fica-se por aqui.

Não concordo é com os trâmites deste acordo, com as profundas alterações ortográficas que vai exigir, implicando uma clara cedência da parte portuguesa (com o argumento de que o Brasil é o grande responsável pela globalização do português - "Hello, quem é que expandiu a língua?..."). Eu concordo quando se diz que a Língua é como um ser orgânico, algo vivo e em permanente transformação, mas penso que neste caso trata-se mais de... "mutação" forçada.

No geral, as mudanças propostas dizem respeito ao desaparecimento de consoantes mudas e acentos. Para os defensores do acordo tratam-se de detalhes irrisórios. Mas para quem aprendeu a amar a língua como ama a sua pátria é quase uma traição aos próprios valores. Para mim escrever "fato" em vez de "facto" não é o mesmo, como apregoam os ditos defensores, porque quando aprendemos a falar e a escrever, também criamos imagens mentais dos cocneitos. Para mim "fato" é, desde sempre, um conjunto de calças e casaco... Para já não falar que o "c" não é realmente mudo... E quem fala em "facto", pode mencionar "óptimo", por exemplo. A supressão do "p" soa a heresia, como se roubassemos a erudição genética da nossa língua. E por falar em "heresia", passa pela cabeça de alguém ocultar o "h"? É (h)ediondo!

Quem ama a língua portuguesa, ama como a uma pessoa: aprende não só a apreciar as suas qualidades, a suportar os defeitos, mas acima de tudo, a admirar as suas singularidades. O que mais gosto no português é a complexidade das suas regras ortográficas, as consoantes mudas, os acentos graves, agudos, as palavras exdrúxulas, os circunflexos, os tiles... não nos roubem isso! É um desafio constante e emocionante não dar um erro! E escrever protuguês é quase como que desenhar, é algo também gráfico.

Outra razão - para terminar - que me faz ser contra este acordo é que, mesmo que ele seja rectificado, a língua portuguesa continuará a evoluir em Portugal e no Brasil de forma distinta, moldando-se às realidades de cada país, como organismo vivo, mutável e adaptável. Daqui a uns anos precisaríamos de estabelecer novo acordo... Coisa que acho desnecessário, mesmo agora, pelo menos enquanto o Scolari fizer anúncios...

Alternativa ao acordo ortográfico:
Lição nº1 do Mr. Scolari - Português Brasil vs Português Portugal




Nota importante:
Por favor não deixem de ler e responder ao post anterior.

1 comentário:

PontoGi disse...

Não acrescentaria nem uma vírgula.
Bravo!!!